quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Matrix Reloaded

A cada fim de ano é usual fazer-se o chamado “balanço”. Posso até estar enganado quanto à epistemologia da palavra, mas para mim “balanço” refere-se a algo que terminou. É certo que termina um ano e começa outro. Mas tal como a hora, o dia ou o mês, aquilo a que se convencionou chamar ano é “simplesmente” uma forma de o Homem conceptualizar a Natureza, a vida. E a vida não acaba hoje à noite, pelo menos espero. Por isso, prefiro chamar-lhe “relatório de progressão”.

Criei este blogue com o objectivo de opinar sobre o clube do qual sou adepto - o Futebol Clube do Porto e sobre o desporto em Portugal, dando primazia ao futebol. Em 2008 passei a ver o FCPorto e o futebol português de forma diferente. Passei a vê-los também pela blogosfera. Farto da indecência – não tem outro nome - dos jornais desportivos, encontrei na blogosfera um conjunto de informação, devidamente tratada, que nunca encontraria em qualquer jornal. Os blogues aqui do lado são um bom exemplo disso. E quando digo que é uma informação tratada, é uma informação onde a subjectividade normal de alguém que gosta do seu clube, não lhe tolhe a visão, nem o espírito crítico. Tento que o flamadraculae siga o mesmo caminho.

Confesso que saído de uma gripe – efeitos colaterais da visita ao “galinheiro” -, tive pouca vontade de acompanhar a vida desportiva na última semana. Onde estou, a banda larga ainda é um conceito desconhecido e do que pude ver das capas dos jornais desportivos muito pouco mudou. A venda de ilusões continua. Sidnei vai ser campeão. Suazo também e já aparece com o “pantera negra”. Derlei também. Liedson também. Todos menos o tricampeão.

Mas só que a ilusão não se resume a manchetes de jornais. A ilusão vai mais além. Os mesmos que falam em verdade desportiva, são aqueles que tornaram a Comissão Disciplinar da Liga e o Conselho de Justiça da Federação uma neo-inquisição e em instrumentos de “caça às bruxas”, ao arrepio dos elementares princípios do Estado de Direito Democrático e das decisões da única Justiça que temos – a dos tribunais. São também aqueles que, ano após ano, fecham os olhos à concorrência desleal dos salários em atraso, das garantias de pagamento ao fisco com acções sem valor de mercado definido, e às OPAS chinesas caídas dos céus. Não vamos falar da oferta de Joe, que isso roça o absurdo. O que anda a fazer CMVM? Talvez tenha ido “almoçar” com o Banco de Portugal.

Como convém, o título deste post não é um acaso. Ontem à noite revi Matrix. Para quem não conhece, Matrix é um filme de ficção científica onde que tudo aquilo que nos rodeia mais não é do que Matrix, um programa informático. A Humanidade vive uma ilusão criada e manipulada por computador. Só alguns humanos (re)conhecem Matrix e lutam contra ela - a resistência liderada por Morpheus que procura Neo, “o Eleito” e tenta destruir o software e libertar humanidade da ilusão onde vive.

Matrix entrou-me em casa pelo Canal Hollywood, andava eu às voltas com a imaginação para encontrar a melhor forma de fazer o tal relatório de progressão. E fez-se luz. O futebol português mais não é do que um Matrix à portuguesa, onde Liga, Federação e jornais desportivos mais não são do que uma ilusão de Instituições credíveis e competentes e ou de jornalismo de qualidade.

Mas há sempre alguém que resiste. Há sempre alguém que (re)conhece a Matrix e luta contra ela insistentemente - a grande família portista. 2008 foi um ano de luta e de resistência. A Matrix, com os seus “agent Smith” – agente que garante a manutenção da ilusão e têm como principal objectivo aniquilar Neo, e as suas sentinelas – uma espécie de cão-de-fila que fareja resistentes - alargou o seu raio de influência e conseguiu penetrar em locais até então protegidos da grande ilusão. E conseguiu mesmo fazer com que instituições normalmente protegidas pela Matrix futebolística portuguesa se vergassem à ilusão. Platini, verdadeira ilusão do futebol moderno, foi o agent Smith de serviço. Só que os tribunais ainda não fazem parte da Matrix, seja ela nacional, seja europeia, e a Resistência mais uma vez venceu.

Matrix teve duas sequelas. A Matrix do futebol português renovar-se-á, certamente, a cada ano que passa. Vai haver luta e resistência e cada um de nós, portistas da blogosfera, será um “Neo” pronto a derrotar um qualquer “agent Smith” que se atravesse no caminho da vitória. É que felizmente, ao contrário do filme, na maior parte das vezes, a Resistência vence a batalha e a Matrix tem que ser reinstalada.

Bom ano.

1 comentário:

dragao vila pouca disse...

Parabéns, meu caro, estás a começar o ano em grande, mas prepara-te para a luta. Não viste o que já vai por aí? Ou nós cuspimos fogo ou vamos ter problemas.
Um abraço