quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Estrela: passo maior que a perna.

Criado em Marvila (junto ao Tejo e no meio de algumas das belas quintas descritas por Almeida Garret nas suas Viagens*) recordo-me dos tempos em que o Estrela da Amadora, o Alverca ou o Olivais e Moscavide vinham jogar ao campo do Oriental. Estávamos no final dos anos oitenta, início dos anos noventa, todos militavam na 2.ª divisão do futebol português e lutavam com clubes como o Santa Clara ou o Campomaiorense pela subida de escalão. Ainda não havia Liga de Honra e os resumos dos jogos passavam no Domingo Desportivo, apresentado por Rui Tovar ou Ribeiro Cristóvão.

Muitas tardes de Domingo foram passadas no Estádio Eng.º Carlos Salema a assistir aos jogos do COL, a saborear o “belo do courato” e o sumol de laranja. Spur Cola também era opção. Os jogos contra o Amadora, o Alverca ou o Olivais e Moscavide eram autênticos derbys da 2.ª divisão.

Desde a criação da Liga de Honra, hoje Liga Vitalis, o Oriental ora passeia pela terceira divisão, ora pela segunda. O actual treinador é Carlos Manuel – aquele de Estugarda. Sucedeu a Pedro Gomes (despedido esta época por maus resultados), que por sua vez tinha sucedido a Chalana (integrado na equipa técnica de Camacho – o resto já se sabe).

Amadora e Alverca conseguiram a subida à 1.ª divisão. O Olivais e Moscavide conseguiu atingir a Liga de Honra e lutou pela subida. O Alverca extinguiu o futebol profissional. O Estrela da Amadora tem salários em atraso e uma situação financeira e económica que não augura futuro muito diferente. Olivais e Moscavide, centro de treinos do Benfica e Sporting dos últimos anos, depois de ter atingido a Liga de Honra, tem salários em atraso e luta para não descer para a 3.ª divisão.

Que eu saiba, o Oriental não tem salários em atraso. Será por nunca ter dado – ou conseguido dar – um passo maior do que a perna, ou seja, por nunca ter conseguido atingir de novo a 1.ª divisão? Tenho a certeza que sim. Ser um clube simpático não chega e a injecção de dinheiro extra receitas da actividade desportiva não dura sempre.

A lição que a História nos parece ensinar, com Alverca, Amadora, Estoril ou Olivais e Moscavide, é que clube em que Benfica ou Sporting tenham influência desportiva ou financeira, normalmente relacionada com a construção civil, mais cedo ou mais tarde chega a um beco sem saída.

Pela verdade desportiva, espero que os jogadores do Estrela da Amadora compareçam na Reboleira. Se assim não acontecer, que sirva de exemplo aos responsáveis da Liga.
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*"Assim o povo, que tem sempre melhor gosto e mais puro do que essa escuma descorada que anda ao de cima das populações, e que se chama a si mesma por excelência a Sociedade, os seus passeios favoritos são a Madre de Deus e o Beato e Xabregas e Marvila e as hortas de Chelas. A um lado a imensa majestade do Tejo em sua maior extensão e poder, que ali mais parece um pequeno mar mediterrâneo; do outro a frescura das hortas e a sombra das árvores, palácios, mosteiros, sítios consagrados todos a recordações grandes ou queridas. Que outra saída tem Lisboa que se compare em beleza com esta? Tirado Belém, nenhuma. E ainda assim, Belém é mais árido. " Almeida Garret, in Viagens Na Minha Terra.

Proximamente: Quando o FCPorto deu a mão ao Oriental.

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