quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

FCPorto: Passivo perante a crise e à espera do outro Espírito Santo?

Crise é pior para o FCP

A crise financeira vai sentir-se nos gastos que os tradicionais emblemas compradores passarão a fazer em reforços, garantem em uníssono os três maiores clubes portugueses, que também concordam na certeza de que a iminente recessão económica se vai fazer sentir no futebol nacional. O que divergirá, ainda na leitura dos gestores de FC Porto, Benfica e Sporting, são as consequências do problema para cada um deles. Mais habituado a vender jogadores com regularidade, e sempre por altas somas, o tricampeão nacional admite, pela voz de Fernando Gomes, que será o mais afectado. "No futuro, se houver maior condicionamento, o FC Porto é, dos três, aquele que deverá ter maior atenção relativamente ao facto de ver diminuída essa parte da sua conta de exploração. Se já é uma preocupação este ano, nos anos subsequentes será uma preocupação acrescida", assumiu, em declarações à agência Lusa, o administrador financeiro dos dragões, acrescentando (ver peça à parte) que a SAD precisa de gerar mais-valias na ordem dos 25 milhões anuais. Caso se pudesse aplicar uma subtracção, nem sequer deveria ser um problema: nos últimos cinco anos, as transferências renderam ao FC Porto nada menos do que o dobro dessa quantia. O mercado foi tão bom para os dragões que, num cálculo simplista, nem um corte de 50 por cento no volume de transacções poderia afectá-los, mas é justamente o facto de terem sido épocas excepcionais que obriga a outras cautelas.
http://www.ojogo.pt/24-318/artigo771088.asp

Em declarações à Lusa, o administrador dos tricampeões nacionais afirma ser "um dado objectivo que o FC Porto necessitará de 25 milhões de euros [anuais] de mais-valias para equilibrar" as suas contas. Fernando Gomes considerou preocupante a "estagnação do mercado" por parte dos clubes europeus mais gastadores, que terá "reflexos ao nível dos clubes de países periféricos e exportadores, necessitados dessas transacções para equilibrarem as suas contas". "De alguma forma", observou, "o FC Porto pode ressentir-se mais [do que o Benfica e o Sporting], pois, tendo em conta o passado recente, tem conseguido equilibrar as suas contas de exploração com a geração de mais-valias" provenientes da transferência de futebolistas para o estrangeiro.
http://www.ojogo.pt/24-318/artigo771089.asp

O flamadraculae teve a sua estreia num momento muito difícil para o FCPorto em termos desportivos - ali mesmo no meio das três derrotas consecutivas. Mas mais do que essas três derrotas, o que me fez avançar nesta demanda bloguista foram as contas apresentadas pela SAD.

Escrevi então: “Dito isto, como é possível o passivo da SAD continuar a aumentar, ano após ano, não obstante termos tido, ano após ano, largas receitas da Liga dos Campeões – prémios, transmissões televisivas e transferência de jogadores! Como vai ser quando a torneira fechar? Será que vamos ser campeões todos os anos e atingir pelo menos os oitavos- de-final da Liga dos Campeões. Por muito que o desejemos, sabemos que tal não vai ser possível.Acresce que as novas regras da Liga dos Campeões para o acesso à fase de grupos dos segundos classificados vêm dificultar a vida aos clubes portugueses. E não estando na Liga dos Campeões, como vamos continuar a vender defesas laterais a 20M€ e defesas centrais a 30M€. Repare-se que a que é agora a defesa da Selecção Nacional rendeu ao FC Porto, em 4 anos, 100M€: Paulo Ferreira – 20M€, Ricardo Carvalho – 30M€, Pepe – 30M€ e Bosingwa – 20M€. Olhando para o actual plantel do FC Porto, onde vamos conseguir receitas idênticas e quantas vezes seremos campeões nos próximos anos? Porque não quero que o Dragão passe a viver das conquistas passadas, como noutras paragens vem acontecendo, decidi ser, a partir de hoje, não só uma voz de apoio ao FC Porto contra as “chamas imensas” do passado, mas também uma voz atenta ao que se vai passando no nosso clube, como de resto deve ser a postura de todos aqueles que vivem o FC Porto e que querem a sua evolução qualitativa.”

Parece que, infelizmente, os meus receios se confirmaram. Um dos primeiros sinais da crise foi a saída do BES do futebol dos três grandes, pelo menos em termos de patrocínio, já que aquele banco recebeu boa parte das acções do Benfica como dação em pagamento pela dívida de Vilarinho. Dizem que cada um dos três grandes não aceitou a proposta apresentada pelo BES, por ser muito baixa. O Benfica, já se sabe, vai ser patrocinado pela Sagres. E o FCPorto, conseguirá um patrocínio equivalente ao que tinha anteriormente? Ou estará à espera do outro “Espírito Santo”?

PS: A saída do BES do futebol coincide com a redução das taxas de juro. Será que andei estes últimos anos a patrocinar o Benfica com a subida da prestação da casa?

5 comentários:

Azulantas disse...

Viva. Antes do mais parabéns pelo excelente blog.

Sem dúvida que a contração na economia mundial vai atingir o futebol, na minha modesta opinião, talvez ainda mais do que as outras actividades. Porquê, porque a grande maioria dos clubes de top actuais, tanto em Portugal, como em Espanha, França, Itália ou Inglaterra vivem do crédito.

E o crédito secou.

O Porto vai ter que pagar as suas dívidas mas também os outros, principalmente os grandes clientes do FC Porto (Reais, Barças, Chelseas, etc) todos vão discutir preços muito mais assanhadamente e "novelas" como aquela que assistimos em relação a Quaresma vão-se repetir por 2009 e 2010.

Em vez de vender 2 "craques" lá vamos ter que passar a vender 3 ou 4...

dragao vila pouca disse...

Meu caro, como não te conheço e o teu perfil não o diz, não sei a tua idade e portanto farás o favor de me desculpar se eu disser alguma cxoisa que já saibas.
Eu que acompanho desde 1982 a presidência de Pinto da Costa, posso dizer-te o seguinte acerca das tuas preocupações, citando um comentário a uma dúvida semelhante deixada no meu blog:

«Em 1982, quando P.da Costa chegou ao F.C.Porto, o clube não tinha dinheiro nem para mandar tocar um cego. No dia seguinte ao acto de posse, muitos, apareceram logo a exigir o dinheiro que o F.C.Porto lhes devia, na tentativa de estrangular o clube e levar o actual Presidente a desistir. Alguns, por exemplo a Agência Abreu, apesar de se ter arrependido e ter aparecido pouco tempo depois, com a corda ao pescoço - como o Egas Moniz - a pedir desculpas e a oferecer tudo e mais alguma coisa, pagaram um preço muito elevado pelas posições que tomaram.
O que quero dizer com isto, é que o F.C.Porto já teve de enfrentar situações muito difíceis - é curioso, mas nessa altura, alguns estavam distraídos - e deu sempre a volta por cima. A situação dos jogadores em excesso é motivo de preocupação, mas é uma situação, que tenho a certeza, faz parte também das preocupações dos responsáveis do clube.

Eu e quem me conhece pode testemunhá-lo, sou muito senhor do meu nariz, mas as minhas principais energias são canalizadas para os inimigos do F.C.Porto e meu caro, eles são tantos!...Jesualdo falou em metade do país. Eu vou mais longe e digo: são todos menos os portistas.

flama draculae disse...

Caro hmocc

Seja bem vindo. Julgo que não vamos conseguir vender pelo preço justo, e comprar um lucho ou um hulk não será fácil. Por isso tão importante se torna a formação em que o FCPorto está a investir. Formação que espero seja para garantir um bom plantel e não para fazer receitas como no Sporting.

flama draculae disse...

Caro Dragão Vila Pouca

Já tenho um ou dois cabelos brancos, daqueles que aparecem por volta dos 30. Devo reconhecer que não me recordo da eleição de Pinto da Costa. O primeiro jogo do FCPorto que me lembro de ver na TV foi o do célebre chapéu de Vermelhinho na Escócia. A primeira vez que senti o FCPorto ser injustiçado foi na final de Basileia. Tudo o que está para trás, como deve compreender, para um portista nascido em Lisboa após o 25 de Abril é difícil conhecer, até pela comunicação social que temos – Tv e jornais. Como se costuma dizer, a idade é um posto –neste caso podemos dizer que a idade é um “post”. É o caso do caro Dragão Vila Pouca, a quem desde já agradeço as contribuições sempre positivas e pertinentes. Esta é mais uma delas.
Quanto ao gastar energias com os adversários, concordo. Pela comunicação social que temos seremos sempre poucos. Não ponho em causa a competência dos gestores do FCPorto, ainda para mais com Pinto da Costa ao leme. Mas é mesmo isso que me preocupa. E quando Pinto da Costa não puder assumir o controlo? Como é que será? Ele mesmo reconheceu, aqui há uns tempos, em entrevista ao Público que a SAD está sujeita às movimentações do mercado. Quanto mais passivo houver, mais hipóteses existem de o controlo do FCPorto cair em mãos erradas. E o que não falta por aí é quem queira que isso aconteça. Certamente terá lido a referida entrevista, mas gostaria de deixar aqui passagens que julgo importantes:
P:Mas o passivo tão alto não o preocupa? Não há cada vez mais o perigo de o FC Porto perder o controlo accionista da SAD?
PC:Não, embora até o BPI tenha sido sujeito a uma OPA. As leis do mercado permitem-no. Mas não há qualquer perigo de insolvência, isso está perfeitamente controlado. Por isso é que estamos a tomar medidas, como a venda do Anderson.
P:Joe Berardo lançou uma OPA sobre o Benfica. Noutros países, os grandes milionários estão a tomar conta dos clubes...
PC:Tudo é possível, desde que se obedeça às leis do mercado. Mas há uma coisa que é importante e que convém não esquecer: o FC Porto tem 40 por cento do capital da SAD e, enquanto eu aqui estiver, não alinhará em vendas e terá sempre o direito de veto. Agora, no dia em que esteja no clube um presidente, entre comas, "feito" com uma OPA, isso será possível. Mesmo sem OPA há sempre a possibilidade de um accionista comprar aos outros.
P:E veria essa situação com naturalidade ou com preocupação?
PC:Depende. Podia ser uma dessas hipóteses e acrescentaria mais duas: desgosto ou satisfação. Tudo em função de quem comprasse e dos seus objectivos. Vou-lhe contar uma história. Em 1987, quando o FC Porto foi campeão europeu, fiz um plano não para dar um passo em frente (porque isso o FCP deu) mas três passos. E levei-o a várias pessoas, uma delas o comendador Gonçalves Gomes. Nesse plano, era preciso que alguém metesse o dinheiro ou que se responsabilizasse perante a banca. Eu não tinha capacidade para isso e, por isso, passava de presidente a director de futebol. E o plano só não foi para a frente porque nenhuma das pessoas que contactei (e que o aprovaram) aceitou que deixasse de ser o presidente. Hoje, há três accionistas de referência: Joaquim Oliveira, António Oliveira e agora os espanhóis da Chamartin, que perfazem quase 40 por cento. Se um cidadão qualquer comprar esses 40 por cento e vier investir para o FC Porto, fico todo contente. Agora se vier para dar cabo disto...

Abraço

dragao vila pouca disse...

Meu caro, não vamos antecipar as coisas. Às vezes as crises são importantes porque antecipam situações, que de outra forma não aconteceriam tão depressa. Um exemplo: se não tem havido Verão quente - no F.C.Porto - de 1980, quem nos diz que hoje seriamos o clube que somos? Também graças a essa convulsão e à saída de alguns jogadores, que foram lançados, por exemplo, o J.Pinto e o Jaime Magalhães.
Eu tenho a certeza, mesmo com as dificuldades inerentes a uma situação que não é fácil para ninguém, daremos continuidade ao projecto ganhador e continuaremos a ser não o Maior, mas seguramente, o Melhor, clube de Portugal.
Um abraço