quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

"Sir Bobby Robson"*


Para abrir e fechar* as hostilidades: nunca lhe perdoarei aquela de colocar o Aloísio a defesa-esquerdo em Camp Nou.
Tínhamos saído da gloriosa jornada de Feyenoord, em que o Ivic colocou o maior autocarro do mundo à frente da baliza, e como não resistiu ao apelo da Federação Croata lá tivemos de abrir mão do homem. Por mero acaso José Mourinho tinha sido despedido de tradutor da lagartagem, e PdC usando a sua enorme perspicácia decidiu contratá-lo, no pacote veio um tal de Bobby Robson.
Qual Desejado, foi num dia de nevoeiro que chegou às Antas onde ainda não tinha chegado a moda dos centros de estágio e dos treinos à porta fechada, e foi o último treinador de quem acompanhei de quando em vez os treinos. E se sentado no banco de suplente, naqueles 90 minutos, sempre o achei uma "nódoa", o mesmo já não digo dos seus treinos. O homem tinha paixão pelo jogo e transmitia isso a todos que o rodeavam. Era um prazer ver aqueles treinos e aqueles jogos e ver que o seu grau de exigência era sempre elevado.
Lembro-me numa semana que antecedeu um Porto - ben7fica, de o ver nos treinos dessa semana a insistir com uma jogada entre o Secretário e o Drulovic. O Secretário avançava pela direita, centrava para o segundo poste onde aparecia o Drulo a rematar, e ele a insistir para o Drulo rematar para o second poste. E vai mais uma vez, e outra, e outra e sempre: "DRULOVIC, SECOND POSTE". No dia do jogo, lá vai o Secretário pela direita, centra e aparece a bola à frente do Drulo, este remata ao 1º poste e permite a defesa ao guarda-redes. Só me lembro de olhar para o banco e vê-lo quase a arrancar cabelos. Na semana seguinte lá estava a sua boa disposição novamente nos treinos e a insistir mais uma vez com o Drulo.
Hoje foi a doença que lhe arrancou os cabelos, depois de ter insistido, uma e outra e outra e outra e outra vez sempre com o mesmo sorriso. Um dia destes vamos abrir o browser, o jornal, ligar a rádio ou receberemos um mail e lá vai estar a notícia a anunciar-nos o inevitável.
Nesse dia vou recordar o homem do killer instinct, que num dia de goleada 5-0 ao Tirsense (com 5-0 ao intervalo), mandou uma rabecada valente aos jogadores por terem relaxado na 2ª parte - e fez questão de o dizer na conferência de imprensa.
De uma entrevista à revista Dragões:
Desenvolvemos bem o conceito de Killer Instinct. Tentámos manter um ascendente permanente. Procuramos estar sempre em boa posição durante todo o jogo. Não nos interessa iniciar o desafio com calma porque ainda está nos primeiros minutos e é preciso primeiro aguentar e assentar o jogo. É claro que isso é importante, mas não é suficiente para o FCPorto, já que pretendemos dar pelo menos a ideia de que vamos ganhar. É evidente que nem sempre resulta mas a intenção está lá e é só uma: ganhar. Então, se marcamos um golo está bem, é óptimo, mas vamos lá tentar outro. E se obtivermos outro, excelente, mas o jogo continua e vamos procurar ainda outro golo. Temos de continuar a atacar e atacar, para obtermos tantos golos quanto pudermos.
Tenho pena que esta filosofia de futebol (e de vida) esteja arredada de algumas cabeças que por aí andam, e que muitas pessoas se contentem só com vitórias. Que não se procure a excelência, dia após dia.
E porque é que o público começou a regressar ao estádio? Porque gostam do que veêm. É um divertimento. Se se pretende ter o público de volta ao futebol é preciso entretê-lo, dar-lhe espectáculo. Porque é que se vai ver um filme? Porque é um bom filme. Se for mau as pessoas não vão. Com o futebol passa-se o mesmo. Se a equipa estiver a jogar mal, as pessoas não vão ver. Logo, o futebol é uma forma de espectáculo.
Espectáculo é também a forma como tem lutado contra os cancros, e hoje que é o Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, o seu exemplo deve ser devidamente realçado.
Sir Bobby Robson, aqui lhe deixo o meu Obrigado pelo seu exemplo de perseverança, de paixão pela vida e de paixão pelo futebol.
* Fechar é como quem diz. Também não me esqueço do Mogrovejo, Walter Paz, N'Tsunda e Mandla Zwane ou o ostracismo a que chegou a votar o Domingos. O que verdadeiramente o safa foi o seu empenhamento em que o relvado das Antas fosse trocado e termos tido nos últimos anos do Estádio das Antas o melhor relvado que alguma vez se viu num estádio de futebol."

* Este texto de João Saraiva, gentilmente cedido - que é como quem diz, retirado - de http://reflexaoportista.blogspot.com/, condensa grande parte do meu pensamento sobre Bobby Robson, pelo que, excepcionalmente, decidi transcrevê-lo.

Lembro-me de Bobby Robson ainda no Sporting a lançar Juskowiak na segunda parte de um Sporting-Porto/Benfica? que foi trasmitido pela SIC, numa das suas primeiras transmissões de futebol. Sem vedetismos, acedeu a responder a uma pergunta do reporter, durante o jogo, sobre a entrada do jogador polaco naquele momento. Respondeu: He's good, he's fresh, com um sorriso de orelha a orelha. Ele estava a vibrar com o jogo.

Robson foi também o "pai" do Penta e dos 5-0 em Bremen. E de célebres expressões como: "passe precise" e "killer instinct". Foi também ele que nos trouxe as pérolas já referidas no texto de João Saraiva e ainda...Ronald Pablo Baroni Ambrosi ou, simplesmente, Baroni! Depois lá foi embora e levou-nos o Baía para Barcelona.

Está perdoado e volte sempre!
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PS: Que o "killer instinct" regresse no próximo domingo no Dragão e consigamos a vitória que nos passou ao lado, em Setembro, na Luz.

6 comentários:

dragao vila pouca disse...

Meu caro, eu que acompanho o F.C.Porto de muito mperto e assisti, in loco, a muitos treinos do F.C.Porto de Pedroto até à inauguração do Centro de Estágio do Olival, posso dizer que Bobby Robson foi o melhor treinador de campo - treino diário - que vi no F.C.Porto. Os treinos não eram longos, mas tinham uma dinâmica, uma intensidade e uma alegria, que passado uma hora e meia, quando o treino acabava, os jogadores pareciam que queriam mais.
Lembro-me também, que com Ivic não jogavamos nada, as pessoas não iam ao Estádio e até tinhamos na altura muitos milhares de sócios com as cotas em atraso. Pinto da Costa arranjou um cargo na Fifa para Ivic e foi buscar Robson. Foi a metamorfose total do futebol portista, com grandes jogos grandes exibições, goleadas e o regresso das casas cheias.
Há tempos atrás a propósito do Porto de Jesualdo, dos jogadores serem bons ou maus, da qualidade do jogo, fiz um post em que estabelecia exactamente o paralelismo entre as duas situações.
Ah, tivesse Robson a perspicácia de um A.Oliveira ou José Mourinho, no banco durante os jogos e eu diria sem margem para dúvidas que era o melhor treinador do Mundo.

Um abraço

Ricardo Campos disse...

andava na faculdade nessas alturas e por vezes faltava ás aulas para ver os treinos no Porto no campo nº2 das antas.
o Bobby robson era o espectaculo dentro do proprio espectaculo, delciava.me com os treinos e com a pronuncia dele, principalmente quando gritava o nome do bandeirinha, que era:
- BAILARINHA
UM MUST!
dexou saudades, era o verdadeira cavalheiro inglês, mesmo a passear pelas ruas da cidade era sempre tratado com respeito e com carinho por todos.

dragao vila pouca disse...

Meu caro amigo, eu até gosto de vir aqui comentar, mas não estou para ser insultado por anónimos cobardes.
Vê se dás um jeito a isso.

Um abraço

flama draculae disse...

Ao Caro Dragão Vila Pouca e a todos os que vêm por bem

Informo que a partir de hoje os comentários passarão a ser moderados para evitar pleonasmos como o que agora foi removido.

Lamento o sucedido.

Agora vamos ao que interessa.

Caros Dragão Vila Pouca e Aurélio Estorniho

Agradeço os contributos que têm dado aqui ao estaminé. Invejo a possibilidade que tiveram de acompanhar de perto Bobby Robson na passagem pelo FCPorto. Na mouralândia só mesmo na tv..

Abraços.

Pescador d'Afurada disse...

Faço minhas as palavras do dragão vila pouca.

Lembro-me bem do principio em que ele cá chegou em que tínhamos um futebol taciturno hiperdefensivo e como foi enchendo as antas com o seu futebol mais alegre, mais virado para o ataque.

Apesar se alguns erros, como esse do aloisio em barcelona. Foi a partir dai, que ganhamos a supremacia no panorama nacional, relegando os nossos adversários directos para outras disputas inferiores e impondo-nos a nível europeu ganhando o respeito pelos outros clubes de top europeu.

flama draculae disse...

Caro Pescador

Essa do Aloísio deixou marcas não só em nós adeptos do FCPorto, mas também no Stoichkov, com aquele comentário infeliz sobre Aloísio. Depois foi castigado pelo Milan.

Volte sempre!