quinta-feira, 30 de abril de 2009

Portugal, Um Retrato Social.

Ao visitar o site zerozero.pt encontrei o seguinte texto que, a propósito do sucesso do FCPorto, descreve o que é hoje Portugal. É um pouco extenso, mas vale a pena ler.
"1 Quem se ausentou para o estrangeiro nos últimos tempos verificou, com tristeza, que o tradicional cartão-postal do nosso país sofreu uma radical alteração. As tintas das descrições e apreciações mudaram de cor. No lugar do sol chamejante, do mar do sonho da nossa errância e peregrinação pelo mundo, da beleza das paisagens, da culinária de fazer crescer água na boca e da afabilidade das pessoas, surgem diariamente no panorama mediático, notícias de um país sombrio, minado pelo à-vontade da desvergonha e corrupção, com referências desprimorosas aos nossos governantes. A imagem dada é a de uma terra sem rei nem roque, de um saque, festim e conluio de interesses e promiscuidades entre famílias, oligarquias, corporações e sociedades claras e ocultas, de uma coutada onde medram e gozam de subido estatuto habilidosos, espertalhões e passarões poisados nos vários ramos do poder. Ao lado ou acima destas ilustres figuras há cavalheiros que, com legitimidade e espartano porte, chamam a atenção para os desmandos e o naufrágio; mas falta à sua voz autoridade moral, porquanto a hipotecaram ao avalizar a montagem de negócios com laivos de podridão e ao dar aos seus autores a capa da protecção. O regime democrático vive o estertor, sem ter chegado verdadeiramente a vingar, por ter caído no fosso da imundície e degradação. Os políticos são vistos como actores de um circo sem nobreza e elevação; só cuidam de se arranjar e servir, não mostrando pelo bem-estar geral apego ou paixão.Acredite o leitor, estas palavras não brotam de um ânimo leve; são o retrato do País que corre além fronteiras. E o pior é que não se trata de exagero, mas da fotografia nua e crua de uma realidade que, por mais que nos desgoste e surpreenda, ultrapassa de longe o conhecimento que dela temos. Há muitas mais coisas fétidas e vis que se escapulam do nosso olhar. Porventura aqui nunca as veremos, nem tampouco serão reveladas; para as perceber é preciso mirar, lá de fora, o esterqueiro que cresce cá dentro, mesmo debaixo do nosso nariz. 2 Foi isto que me confrangeu e doeu à flor da pele e nas dobradiças e entranhas do corpo e da alma, durante a recente ausência do País. Em contraste com este monturo asfixiante e nauseabundo da vida pública nacional e da chafurdice que a perfaz, surgiu um outro cartão postal, colorido com termos de admiração e exclamação, exaltando a nossa infinda capacidade de transcendência e superação. Esse cartão tem a marca Porto, que é, afinal, a raiz da origem de Portugal e constitui a referência para a esperança na grandeza do seu destino.Porto é muito mais do que uma cidade; é bandeira e símbolo maior da sublimação do nosso país em todo o mundo, através da generosidade e espírito do vinho, da obra de internacionalização da universidade e da gesta de um clube de futebol. Este não se dá bem com a mesquinhez e pequenez e teima em se afirmar e seguir o seu curso entre os maiores, lavrando com ambição, ousadia, esforço, suor e visão um caminho que aos parceiros indígenas e à Liga da sua organização devia suscitar apreço, louvores e inspiração, em vez de lhes despertar inveja, aversão e perseguição. O nome Porto evoca orgulho e dignidade, é uma lufada de ar fresco e um raio de luz no cenário feio de ridículo e troça que, lá fora, se faz da bagunça do Portugal actual.Sim, estava no estrangeiro quando o FCP saiu da Liga dos Campeões pela porta grande. Por isso pude ler e ouvir comentários opostos aos do quadro sujo em que é emoldurada a baderna da política, da justiça, dos media, das iniquidades, mentiras e fraudes, dos abusos e esbulhos, dos fretes e tráfico de favores, da nossa assombração e desilusão.É neste Porto de revolta que me revejo e é também nele que ergo e bebo a taça do amor infindo ao Portugal eterno, da minha afeição e devoção. É ele que pede respeito para o primeiro-ministro, pelo simbolismo da sua função presente; e para todos os cidadãos honrados, pela seriedade permanente e pelo exemplo de uma vida limpa e decente.»
Jorge Olímpio Bento in "A Bola", 30-4-2009

1 comentário:

dragao vila pouca disse...

É um belo artigo do Jorge Olímpio Bento, portista apaixonado.

Um abraço